Mario dos Santos Lima

Vivo intensamente o agora

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MEUS NATAIS

Universal, abrangente, calorosa e cheia de amor assim é a festa de Natal, que inebria e povoa de fantasia a mente das crianças e adultos. É uma data esperada, cantada por todos, e é uma das mais coloridas celebrações da humanidade. É uma época em que toda a fantasia é permitida.
Meus natais eram doces cheios de esperança e ansiedade. Dava a impressão que entre um e outro decorria um século, tal o tempo de espera.
Eu sempre sabia que a data natalina estava próxima porque minha mãe sinalizava ao retirar de seus guardados o presépio, e o pai ao trazer, nem sei de onde, um pé de cedrinho que era bem grande; Eu acho que era do tamanho dele.
Lá no canto da sala minha mãe ajeitava cuidadosamente, com pregos na parede o pé de cedrinho, e então, eu e minhas duas irmãs começávamos felizes o trabalho manual de preparar as correntinhas em papel celofane coloridas, os origamis de balões, fazendo cestinhas de papel onde minha mãe colocava os docinhos e bolachas que ela mesma fazia. Ela era muito hábil neste tipo de dobradura de papel. Ela delicadamente distribuía os algodões pela árvore, fazendo com que eles ficassem enroscados ou derretendo por entre as folhas como se fossem a neve. Eu nunca entendi o porquê destes algodões, mas também nunca perguntei. Achava fascinante e era o que bastava.
As velinhas, finas em cera, em delicados castiçais eram dependuradas, uma a uma com cuidado, presas por presilhas.
O presépio cuidadosamente disposto do lado do cedrinho dava o ar da devoção e da fé. Do outro lado um espaço reservado para os presentes.
Eu acho que minha mãe conseguia deixar tudo arrumadinho e organizado uns dez dias antes do natal. Após o jantar, todas as noites que antecedia o tão esperado dia vinte e cinco, as velas eram acesas e meu pai, minha mãe e nós de joelhos rezávamos ao menino Jesus agradecendo pelo dia e pedindo saúde e muito amor para a família.
Eu rezava, mas meu agradecimento era para este tal Jesus por ele permitir que no dia de seu aniversário a gente ganhasse presentes. Eu achava muito legal este tal menino deus e por isto acompanhava com entusiasmo meu pai e minha mãe nas orações. Meus joelhos às vezes doíam, mas eu agüentava firme até o final. Nas minhas orações eu prometia a este tal menino que iria me comportar, seria obediente a meus pais, e que não brigaria mais com minhas irmãs.
Os dias passavam lentos parecendo séculos se arrastando.
Lembro-me que quando chegava a tão esperada noite era de muita festa e de muita alegria lá em casa. O comportamento meu e de minhas irmãs neste dia era exemplar; Nenhuma briga, nenhuma desobediência. Eu acho que minha mãe gostaria que todos os dias fossem natais. O dia vinte e quatro de dezembro era mágico, fascinante, pois além de trazer o amor, a paz, trazia os tão esperados presentes.
A gente nunca pedia, mas sabia que vinha.
O presente sempre representou um momento ímpar que era trazido pela magia da primeira estrela surgindo na amplidão celeste.
A oração da noite de natal me parecia não ter fim, mas ao seu término minha mãe sempre pedia para que eu e minhas irmãs fossemos para fora para esperar e anunciar a primeira estrela no céu.
O céu era um grande palco e o breu da noite era uma cortina enorme que se abria para mostrar a sua principal estrela; A primeira que surgisse. Eu acho que às vezes o céu era trocista conosco ao demorar em abrir sua cortina.
Naquela época, a escassa iluminação das ruas permitia um céu mais escuro revelando imediatamente a primeiro ponto luminoso ao aparecer de repente na amplidão.
Às vezes me colocava deitado de costas para facilitar fiscalizar o surgimento da tão desejada e esperada primeira estrela no infinito céu.
De repente, alguém de nós grita apontando com o dedo um ponto brilhante no céu:
- É ela, é ela!
E nós, em louca correria entrávamos estabanados na sala gritando para nossa mãe:
- Ela apareceu! Ela apareceu!
Minha mãe sorria, com aquele sorriso lindo para nós, meigamente nos abraçava e apontava para os presentes ao lado do presépio.
Ah! Como meus natais eram lindos.
Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 06/02/2012
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