Mario dos Santos Lima

Vivo intensamente o agora

Textos

O MEDO DO VIRGEM

Diz a lenda que o medo é um sentimento de enorme inquietação ante a opção de um perigo real ou imaginário. O medo é uma merda mesmo; Podemos sentir medo tanto de fatos reais, como por exemplo, de um rato, de uma barata, de um raio que pode cair sobre nossa cabeça, de um cão bravo que pode morder nossa bunda ou da sogra que pode nos atacar, como também de coisas fantasiosas, além da estratosfera, tais como medo de fantasma, medo de políticos honestos, medo do medo, medo do escuro, medo do bicho papão, etc.
Quando estamos frente a frente com este maldito sentimento nossas mãos se congelam, nosso coração dispara, uma onda de calor percorre desde a saída do tubo digestivo até a nuca, a respiração se torna ofegante e quando tentamos falar cuspimos mais que cão enlouquecido.
O medo causa insegurança, baixo auto-estima e depressão.
Para o homem a fisiologia do medo se inicia nas amígdalas e termina no encolhimento do saco escrotal.
O maior problema deste sentimento é o medo de outras pessoas. Isto é cruel e parece uma maldição. O fóbico social tem dificuldade de se relacionar principalmente com o sexo oposto. O sexo oposto sempre vai ser para ele um monstro. Quando o sexo oposto se aproxima o fóbico abaixa os olhos, segura as mãos na frente da genitália como que para defendê-la e se tiver que falar alguma coisa não consegue bulhufas alem de um balbuciar respingado de saliva e, pernas para que te quero, escafede-se mesmo. Foge incontinente.
Meu amigo Donaldo dos Pomares é um desses tipos que vive se acovardando principalmente diante dos convites indecentes das meninas para tirar uns amassos debaixo do ededron.  
Este meu amigo, pela educação sexual que teve quando criança, faz questão e preserva com unhas e dentes a sua virgindade. Foi incrustado nele o medo da dor da primeira relação sexual, das doenças sexualmente adquiridas e que são fulminantes levando o tarado ao óbito. Ele quase se caga todo de medo destas coisas e por isto optou por fazer os votos de castidade e celibato. É um virgem convicto.
A minha amiga Anacréia Ruela arrasta uma asa por ele e gostaria que ele lambesse um vagão de merda por ela. Mas tudo em vão; Ele é mais liso que bagre ensaboado, foge dos cercos que ela apronta.
Ela chora, a um canto, desconsolada, e ele, de medo, treme igual vara verde no outro canto. Ela pede a todos os santos um milagre de conversão e ele freqüenta assiduamente os terreiros de macumba para deixar seu corpo fechado. No fundo, no fundo ele curte certo encanto pela Anacréia, mas tem medo de perder a virgindade.
Um belo dia aconteceu uma festa de formatura. Ambiente propício para o assédio e envolvimento emocional. Umas cachaças na cabeça e pronto, tudo resolvido pondo o medo em debandada geral. Será que o cenário foi propício para a realização do fato? É uma incógnita.
O ambiente na penumbra era envolvido por uma música romântica dos anos 50 que deixava os mais brutos, românticos delicados.  O vozeio do povo era um coral num ensaio geral.
E o donzelo espera nervoso a Anacreia chegar. Combinou com ela. Ele se sentia infeliz e inseguro ao meio de milhões de olhos gulosos que o despiam sem piedade. Queriam lambe-lo, queriam se saciar da beleza bruta que ele tinha. Queriam descabaçá-lo de qualquer forma.
E de repente ela chegou como uma mariposa doidivanas atraída pela luz; Infelizmente não a Anacreia, como ele esperava, mas uma voluptuosa, frívola e sensual deusa escultural. Seus cabelos caiam safados apalpando seus seios que quase escapuliam da blusa; Suas pernas, quase desnudas mostravam no andar destemido a vontade de um encontro. Tudo nela era lindo como se fosse uma deusa sedenta de sexo. Era o próprio capeta em forma de gente. E ela veio quase flutuando e, aos pouco se chegou, como quem não quer nada, mas querendo tudo, e tão perto ficou que seu hálito divino era um perfume tentador. Provocadora, com o dedo indicador tocando seu ombro, seus olhos verdes nos dele fixo e quase que suas coxas encoxando nas suas, em suave encanto de sua voz em canto, pergunta:
- Vamos dançar Donaldo?
Ele se encolhe, treme, abaixa os olhos, sua garganta seca, sufoca, quase se urinando de medo gagueja:
- Ah?!  E foge tropicando entre as mesas perdendo-se na multidão, e a deusa escultural, boquiaberta, ficou plantada ali sem nada entender.
Mais tarde alguém o encontra escondido no banheiro e pergunta:
- Por que você fez isto com aquela linda mulher?
- Ela é muito nova. Deve ter uns quinze anos e me pegou de surpresa! E num suspiro prolongado, virando os olhos murchos para cima diz:
- Ah! Se eu tivesse coragem, teria comido aquela mina!
E o virgem se safou de mais uma!
Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 25/03/2012
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