UMA SAUDADE, UMA ESPERANÇA E UMA LÁGRIMA
Lá estava ela, arquejada, maltrapilha, sentada a beira da praia, impassível de olhos perdidos no horizonte, e de mil pensamentos misturados com o murmurar das ondas. Seus cabelos brancos e em desalinho, brigavam com a brisa úmida do mar. Absorta, perdida no tempo, ninguém a tirava daquele lugar. Seu único filho, no vigor dos seus 18 anos fôra convocado para lutar numa tal guerra bem longe dali. Em súplicas ela tinha desesperadamente implorado ao general que não levasse seu filho. Ela era viúva e clamava de mãos postas, lágrimas nos olhos e de olhar fixo no dele. Quase se ajoelhando pedia com insistência: - Não leve, não leve meu filho! Ele é meu tesouro, o único que tenho! Por favor meu senhor, tenha piedade de mim! - A pátria precisa dele, respondeu o implacável general. O jovem todo orgulhoso ansiava pela partida. Para ele era a coisa mais linda e bela defender, em luta, a sua pátria, mas para a mãe era o perigo eminente de perder a coisa mais preciosa que ela tinha. Os dias passaram rápidos e o grande e sofrido momento chegou. O navio no cais esperava aquele bando inocente que, com certeza, estavam indo para o holocausto, por uma luta que nem mesmo eles sabiam contra quem e porquê. Todo feliz, caminhando em direção ao cais, lado a lado com sua mãe, nem percebeu as lágrimas que corriam do rosto dela. Num abraço demorado, quase sem palavras ele disse para sua mãe, beijando-lhe a mão: - Não fique triste mãezinha! um dia voltarei e ficaremos juntos, muito bem, e felizes. Mais um abraço demorado aconteceu, e muitas lágrimas em soluço se perderam. Ele em silêncio enxugou com seus dedos as lágrimas que corriam em sua face, e aproveitou para enxugar as lágrimas do rosto de sua mãe também. Olhou demoradamente para ela, num sorriso desconexo, virou-se, e perdeu-se no meio da tropa. Como cordeiros para a imolação, um a um, em fila indiana percorriam a pinguela até serem engolidos pelo navio. O navio, impassível, de bojo cheio, roucamente apita dando sinal da partida. Milhares de lenços branco acenando enquanto, pouco a pouco, ele vai desaparecendo na curva que a água faz lá mais adiante. Todos se foram, apenas ela permaneceu, por longo tempo, como que petrificada, olhando tristemente o horizonte perdido no azul do mar. Voltou tal qual robotizada para casa. Os dias, um a um, foram consumindo a alegria de viver daquela mulher. A cada barco que ancorava, a cada apito de navio rescendia nela a chama da esperança, e lá ia ela aguardar pacientemente a chegada do filho amado que nunca vinha. Um dia, bateram a sua porta. Ela abriu-a vagarosamente, e viu a sua frente um oficial do exército. Ele trazia em seus braços uma bandeira e um comunicado: - Sentimos muito, mas seu filho morreu heroicamente em combate. Perfilou, fez continência e entregou a bandeira. Num primeiro momento ela gritou, chorou, amaldiçoou e em seguida começou a gritar: - E mentira! É mentira! o meu menino não morreu! Ele disse que vai voltar! Eu sei que ele vai voltar. Dias após dias, anos após anos, resmungando palavras desconexas, lá ia ela até o cais. Sentada num banquinho tosco, permanecia o tempo todo olhando ansiosa o horizonte perdido nas águas do mar. E nessa espera, um dia, alguém a encontrou sem vida, mas viu que de seu rosto desprendia um lindo sorriso, e de seus olhos semi abertos ainda corriam algumas lágrimas.
Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 10/08/2013
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